E nesse novo mundo digital as barreiras de entrada se mostram menores do que nas indústrias da economia tradicional.
Aqui uma mostra clara disso: dos 10 apps mais baixados nos EUA, o Top 4 é todo chinês (matéria da StartSe): https://www.startse.com/artigos/os-apps-chineses-causam-medo-aos-estados-unidos/
Essa me surpreendeu, pois o epicentro (e berço) da economia digital até então foi nos EUA. Até hoje o “Top of Mind” é americano.
Agora é uma questão de ver qual a influência das diversas discussões geopolíticas também no mercado de serviços digitais.
Se olharmos os últimos anos, não faltam exemplos recentes de disputas ao redor do globo:
1) - Primeiro começou com as discussões e regulamentações de provedores cloud, o que até trouxe à tona o conceito super falado hoje de “Sovereign Cloud”. A disputa começou primeiramente entre EUA e EU, mas se tornou global.
2) - Ao mesmo tempo veio a disputa por soberania de dados, dessa vez encabeçada pela Europa, mas retaliada na sequência pelos EUA. Esse tema conversa com a própria soberania de cloud.
3) - Tivemos também as discussões sobre serviços digitais, incluindo App Stores, mais uma vez iniciada pela Europa, o que trouxe impactos para a Apple, Google e outros gigantes americanos.
4) - Logo depois vieram as regulamentações sobre serviços e tecnologia de AI, e mais uma vez, iniciada pela Europa, no que para mim é mais uma mostra de fragilidade por estarem bem atrasados em temas tecnológicos em relação aos EUA e a Ásia.
5) - E ainda tem a questão dos microchips. Nessa aqui a disputa é global. Quase toda indústria de chips de alta tecnologia está na Ásia e todos os lados estão se movendo o mais rápido que eles podem para reduzir essa concentração e mitigar os riscos de abastecimento e acesso à tecnologia.
Os impactos de tudo isso eu julgo ainda levarão algum tempo até ficarem totalmente claros, mas me parece bem evidente que serão relevantes.
Esses aspectos regulatórios, as disputas entre os grandes blocos nas questões geopolíticas e o acirramento nas preocupações de soberania serão (ou já são) fatores que precisam constar na lista de itens a serem colocados nas discussões estratégicas das organizações.
E isso não apenas dentro do escopo de IT, mas sim dentro da visão macro do próprio business, dependendo de qual a indústria e a abrangência geográfica da empresa.
E, mais uma vez, reflito sobre o vácuo que existe nesse tipo de discussão aqui no Brasil.
Pode ser que eu é quem não estou inserido nos fóruns em que elas eventualmente ocorram, mas não tenho visto nenhum debate público quanto a isso.
Não me parece fazer parte da pauta política. É como se esse assunto não existisse ou não fosse do nosso interesse.
O mundo ao nosso redor parece estar agindo, mas aqui no Brasil, e talvez na América Latina como um todo, apenas observamos e acatamos o que venha a ser definido e implementado, sem considerar os interesses e conveniências nacionais ou regionais.