As movimentações no mercado global de semicondutores

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Em um cenário global marcado por transformações rápidas e desafios emergentes na cadeia de abastecimento, a União Europeia tomou uma decisão estratégica fundamental para fortalecer sua posição no mercado global de semicondutores.

A recente aprovação do Chips Act pela União Europeia representa um marco na busca por autonomia e competitividade tecnológica frente a gigantes globais e desafios geopolíticos.

Deixo aqui a recomendação de leitura de uma matéria da ComputerWorld que aborda exatamente essa questão:

https://www.computerworld.com/article/3693953/eu-chips-act-to-drive-47-billion-investments-in-semiconductor-manufacturing.html

E na sequência vamos explorar as nuances deste novo acordo e refletir sobre suas implicações para o futuro tecnológico e estratégico da Europa (e de certa forma, também do mundo).

EU Chips Act

O acordo alcançado entre o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu destina-se a investir 3,6 bilhões de dólares de fundos da UE, com o objetivo de atrair um adicional de 43,7 bilhões de dólares em investimentos privados para expandir as capacidades de fabricação de semicondutores no continente.

Esta iniciativa não só responde às interrupções recentes na cadeia de abastecimento, exacerbadas pela pandemia e conflitos geopolíticos, como também reflete uma estratégia proativa em resposta à crescente competição tecnológica global, particularmente com a China e os Estados Unidos.

O acordo inclui três pilares principais. O primeiro, "Chips for Europe Initiative", concentra-se na expansão da capacidade de fabricação por meio da transferência de conhecimento e da criação de centros de competência.

Esses centros visam fornecer acesso a dados experimentais e expertise técnica, essenciais para o avanço das habilidades dos especialistas e para o desenvolvimento de novos designs.

O segundo pilar busca atrair novos investimentos ao conceder permissões rápidas para instalações inéditas na Europa e designar novos centros de excelência.

Finalmente, o ato estabelece um sistema de monitoramento e resposta a crises na cadeia de suprimentos para mitigar futuras escassezes.

O Chips Act foi recebido com entusiasmo pela Comissão Europeia, que destacou o papel crítico dos semicondutores como uma preocupação geoestratégica chave, reforçando a competitividade econômica e a posição estratégica da Europa ao aumentar a parcela de chips produzidos na UE.

Perspectivas e Implicações Estratégicas

Diante deste contexto, considera-se que o Chips Act não é apenas uma resposta às crises recentes, mas uma visão estratégica de longo prazo que almeja transformar a dinâmica de poder no setor de semicondutores.

A dependência europeia de fornecedores externos, principalmente de Taiwan e Sudeste Asiático para fabricação e dos Estados Unidos para design, revelou-se uma vulnerabilidade estratégica durante as os eventos geopolíticos recentes.

Através desse novo pacto legislativo, a Europa busca não só mitigar essas dependências como também se posicionar como um player robusto e autônomo no cenário global.

Isso é essencial não apenas para a segurança e soberania tecnológica, mas para a capacitação de setores críticos como transições digitais.

O futuro da Soberania Digital

As transformações geopolíticas que testemunhamos atualmente têm impactos profundos não apenas nas estruturas políticas globais, mas também nas economias e na sociedade em geral.

A iniciativa da União Europeia com o Chips Act é um reflexo direto desta realidade, inserindo-se em um contexto em que a tecnologia se torna cada vez mais um ponto central das tensões e estratégias geopolíticas.

As Mudanças Geopolíticas e Seus Impactos

Estamos vivendo uma era de grandes mudanças geopolíticas que impactam profundamente a economia global e a sociedade.

A tecnologia, que permeia quase todos os aspectos de nossa vida, tornou-se um dos campos de batalha mais significativos.

O Chips Act da UE e o CHIPS and Science Act dos EUA são exemplos de como os blocos econômicos estão se posicionando para garantir não apenas a segurança, mas também a soberania em áreas críticas da tecnologia.

A disputa por superioridade tecnológica, especialmente em semicondutores, é uma clara indicação de que a capacidade de produzir e controlar tecnologias essenciais está intrinsecamente ligada ao poder geopolítico.

Reflexão sobre a Movimentação dos Blocos Econômicos

As movimentações dos grandes blocos econômicos levantam questões importantes sobre o futuro da colaboração e integração global.

Não posso deixar de me questionar se estamos caminhando para um mundo mais fragmentado, onde cada bloco busca maximizar sua própria segurança e prosperidade, potencialmente às custas da cooperação global.

A tendência de "desglobalização", particularmente em tecnologias críticas, pode levar a um aumento das barreiras comerciais e tecnológicas, criando um ambiente de competição em vez de colaboração.

O Futuro Tecnológico: Chips, 5G e além

Atualmente, o foco está nos semicondutores, mas, há alguns anos, as discussões dominantes centravam-se na implementação das redes 5G.

Esta transição de prioridades levanta a questão sobre quais serão as próximas tecnologias críticas que entrarão em pauta.

Podemos esperar debates intensos e políticas estratégicas voltadas para a nuvem, sistemas operacionais, plataformas móveis, middleware e outras plataformas de hardware, assim como plataformas de inteligência artificial no futuro próximo.

A capacidade de um país ou bloco de dominar essas tecnologias definirá não apenas sua força econômica, mas também sua posição estratégica no cenário mundial.

Portanto, é crucial que continuemos a monitorar e a entender estas tendências, preparando-nos para as próximas ondas de inovação tecnológica que possam surgir.

Inércia Tecnológica na América Latina

Dentro desse cenário global cada vez mais determinado pelas capacidades tecnológicas dos Estados e dos blocos regionais, a América Latina, incluindo o Brasil, apresenta uma postura preocupantemente passiva.

Enquanto regiões como a União Europeia e os Estados Unidos avançam rapidamente em políticas estratégicas para fortalecer suas indústrias de alta tecnologia, especialmente semicondutores, a América Latina parece estar à margem dessas discussões.

A Falta de Debate Estratégico na América Latina

A ausência de um debate estruturado e aprofundado sobre o desenvolvimento tecnológico na América Latina pode ser vista como uma grande vulnerabilidade.

Enquanto outras regiões do mundo estão se armando com políticas e investimentos significativos em tecnologias essenciais, como semicondutores e infraestruturas de rede 5G, países latino-americanos ainda não delinearam uma estratégia clara ou suficientemente robusta para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades da economia digital global.

Implicações de uma Posição Passiva

A falta de posicionamento ativo em tecnologia não apenas impede a região de competir em igualdade de condições no mercado global, mas também a torna dependente de tecnologias e padrões definidos por outros.

Esta dependência pode resultar em vulnerabilidades significativas, incluindo riscos de segurança nacional e perda de soberania econômica.

Além disso, sem uma base tecnológica forte, a América Latina pode enfrentar dificuldades em atrair investimentos estrangeiros de alto valor agregado, limitando seu desenvolvimento econômico e sua capacidade de inovação.

O Risco de "Ser Posicionado"

Se a inércia persistir, a América Latina corre o risco de "ser posicionada" de forma reativa por outros atores globais.

Isso significa que as decisões sobre como e quando adotar novas tecnologias, ou mesmo quais tecnologias adotar, podem ser tomadas fora da região, com pouco ou nenhum benefício direto para os países locais.

Tal cenário deixaria a região em uma posição de constante atraso tecnológico, lutando para se adaptar a padrões e sistemas que não foram projetados considerando suas necessidades específicas.

A Urgência de Mudança

É crucial que líderes e formuladores de políticas na América Latina reconheçam essa situação como uma chamada urgente para ação.

Não me parece prudente permanecer à margem das dinâmicas globais de tecnologia.

A região deve desenvolver estratégias próprias para investir em pesquisa e desenvolvimento, formação de capital humano especializado e infraestrutura tecnológica.

Além disso, é fundamental estabelecer parcerias internacionais estratégicas que possam ajudar a construir e fortalecer o ecossistema tecnológico regional.

Concluindo

A aprovação e implementação do Chips Act pela União Europeia simbolizam um passo decisivo na reconfiguração da paisagem tecnológica global e no fortalecimento da infraestrutura interna do continente em um setor vital.

As iniciativas para expandir a produção interna de semicondutores e as estratégias para atrair investimentos privados refletem um compromisso com a inovação e a competitividade.

Assim, o Chips Act não apenas endereça as vulnerabilidades imediatas reveladas por crises recentes, mas também pavimenta o caminho para uma Europa mais resiliente e influente no palco tecnológico mundial.

A geopolítica da tecnologia é complexa e cheia de implicações, refletindo uma mistura de competição e colaboração.

Como líderes e pessoas diretamente interessadas e impactadas pelas regulações e movimentações globais, devemos estar atentos às implicações de longo prazo dessas tendências.

O Chips Act da UE é um passo importante, mas é apenas uma parte de um quadro muito maior que inclui outras tecnologias emergentes.

Este cenário exige uma vigilância constante e uma estratégia proativa para garantir que nossas sociedades possam se beneficiar dessas inovações sem comprometer a segurança nacional e a estabilidade econômica global.

Estamos em um ponto de inflexão, e as decisões que tomarmos agora irão moldar o futuro da soberania digital e da ordem mundial tecnológica.

Pensando especificamente na América Latina, creio que a mesma está em um ponto crítico.

As decisões tomadas agora irão determinar se a região pode se transformar em um participante ativo e competitivo no cenário tecnológico global ou se continuará a ser um ator passivo, sujeito às decisões e interesses de outros.

A inércia atual não é apenas uma oportunidade perdida, mas uma ameaça real ao crescimento econômico sustentável e à soberania tecnológica.

Portanto, é imperativo que se adote uma abordagem mais proativa e deliberada em relação ao desenvolvimento tecnológico, garantindo que a América Latina possa garantir seu lugar e voz no futuro digital.

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